Geral A corrida pelo arrendamento no interior: por que falta oferta em Castelo Branco mesmo com tanta procura? Castelo Branco tem atributos (custo de vida, natureza, ensino superior) que atraem novos moradores. O problema é que a economia política do arrendamento incentivos mal alinhados, stock envelhecido, falta de oferta pública e dinâmica de procura cruzada entre estudantes, trabalhadores híbridos e estrangeiros, cria uma... 11 dez 2025 min de leitura A corrida pelo arrendamento no interior: por que falta oferta em Castelo Branco mesmo com tanta procura? Castelo Branco — cidade pequena, preços mais baixos que as capitais, campus do politécnico e um centro histórico simpático. Ainda assim, nos últimos anos o mercado de arrendamento por aqui apertou. Não é apenas uma sensação: há sinais claros de procura elevada em conjunto com uma oferta que não cresce no mesmo ritmo. O resultado é competição por quartos e T1/T2 a preços que, embora baixos face a Lisboa ou Porto, sobem e excluem quem vive aqui. Idealista+1 Dados rápidos que explicam o problema A renda mediana dos novos contratos de arrendamento em Portugal atingiu 8,43 €/m² no 4.º trimestre de 2024 (INE). No início de 2025 estes valores mantiveram-se elevados e com tendência de subida em vários indicadores nacionais. Instituto Nacional de Estatística+1 Apesar disso, Castelo Branco mantém-se entre as cidades mais económicas do país em termos de €/m² — idealista indicou cerca de 6,5 €/m² como referência em 2024 — o que atrai procura. Ao mesmo tempo os anúncios locais mostram muitos quartos e T1/T2 com preços relativamente baixos, mas com oferta limitada e rotatividade reduzida. Idealista+1 O Politécnico de Castelo Branco dispõe de 4 residências de estudantes (3 em Castelo Branco e 1 em Idanha-a-Nova), um número que não cobre a totalidade da procura estudantil e empurra muitos alunos para o mercado privado. Politécnico de Castelo Branco Quais são as causas estruturais? Procura concentrada e sazonal (estudantes + mobilidade académica) O ensino superior local gera uma procura fixa (estudantes que precisam de quartos/T1) e picos no início do ano letivo. As residências do IPCB aliviam parte da pressão, mas são insuficientes para todos os alunos que vêm de fora — muitos acabam por competir por um reduzido stock privado. Politécnico de Castelo Branco+1 Atração por preços baixos: nómadas digitais e estrangeiros Portugal tornou-se muito atraente para nómadas digitais e trabalhadores estrangeiros que procuram qualidade de vida mais barata — e o interior está na mira. Mesmo que cada indivíduo gaste menos que em Lisboa, a chegada de vários trabalhadores remotos juntos pressiona unidades disponíveis e obriga a senhorios a reajustarem preços. Idealista+1 Trabalhadores de TI em regime híbrido O modelo híbrido ampliou a capacidade de profissionais — especialmente no sector tecnológico — de escolherem viver fora dos grandes centros. Esses trabalhadores mantêm rendimentos suficientes para concorrer por alojamentos bem conservados (T1/T2), reduzindo o universo de imóveis acessíveis a quem tem salários locais. (Fonte: estudos nacionais sobre teletrabalho e tendências de procura por interior; ver tendência geral nos media especializados). Mais Consultores Oferta residencial estagnada: pouco estímulo à reabilitação e ao arrendamento de longo prazo Grande parte do parque habitacional do interior é antiga. Investir na reabilitação custa e o retorno para senhorios é incerto quando o arrendamento de curta duração (alojamento local) ou a venda parecem mais atraentes. Além disso, critérios e incentivos públicos para converter imóveis vazios em arrendamento acessível são ténues ou mal articulados. A consequência: mesmo com procura, a oferta formal não aumenta. Idealista Fragmentação de políticas públicas e respostas insuficientes Autoridades têm reconhecido o problema do interior (despovoamento, falta de emprego, acessibilidade à habitação), mas a tradução em políticas eficazes de arrendamento público, criação de stock de habitação social/local, linhas de crédito para reabilitação com contrapartidas sociais e regulação eficaz do alojamento local tem sido lenta ou insuficiente. O próprio Governo admite que a habitação pública é uma ferramenta essencial, mas faltam medidas robustas no terreno para o interior. ECO+1 E as políticas públicas — onde falham? Foco urbano: grande parte das medidas e incentivos recentes concentrou-se em Lisboa/Grande Porto por razões eleitorais e de mercado — resultado: interior recebe menos programas piloto e menos financiamento para habitação. Instrumentos dispersos: existe legislação e programas (ex.: teto de rendas máximas por concelho; linhas de reabilitação), mas faltam mecanismos que liguem oferta (imóveis vazios), financiamento (microcrédito para senhorios ou incentivos fiscais) e exigência social (contratos com renda acessível por X anos). Portal da Habitação+1 Curto-prazismo: políticas que privilegiaram turismo e alojamento local nos últimos anos aumentaram a rentabilidade de converter apartamentos a AL em vez de mantê-los no arrendamento de longa duração — e isso reduz oferta disponível para residentes. Falta visão de longo prazo para o equilíbrio entre turismo e vida local. O que pode (e deve) ser feito? Aumentar stock de habitação pública/regional: construir ou reabilitar com regras que garantam arrendamentos a preços controlados por períodos largos. Incentivos à reabilitação condicionados: apoiar senhorios com financiamento com contrapartidas (ex.: 60% do imóvel em arrendamento acessível por 10 anos). Políticas locais de acolhimento inteligente: parcerias entre câmaras, politécnicos e empresas de TI para arrendamento temporário a novos trabalhadores/estudantes que queiram fixar residência. Regulação direcionada do Alojamento Local: limitar transformações permanentes de terrenos habitacionais em AL sem contrapartida social nas zonas com carência de arrendamento. Programas de integração de estrangeiros/nómadas: incentivar estadias de médio prazo em residências dedicadas com regras contratuais claras, evitando pressões especulativas no mercado privado. Conclusão — oportunidade perdida ou chance por agarrar? Castelo Branco tem atributos (custo de vida, natureza, ensino superior) que atraem novos moradores. O problema é que a economia política do arrendamento — incentivos mal alinhados, stock envelhecido, falta de oferta pública e dinâmica de procura cruzada entre estudantes, trabalhadores híbridos e estrangeiros, cria uma corrida: muita procura, pouca oferta adequada. Sem intervenção pública articulada, o interior corre o risco de ver aumento de preços que acaba por expulsar justamente os jovens e profissionais locais que procuram fixar-se. É preciso uma estratégia concertada e localmente adaptada: melhor planeamento, financiamento condicional e diálogo entre câmaras, universidades e mercado. Caso contrário, a “vida barata” do interior pode tornar-se um rótulo mentiroso — bom para selfies, mau para viver de forma estável. Politécnico de Castelo Branco+2Instituto Nacional de Estatística+2 Referências principais (consultadas) INE — Boletim estatístico: Renda mediana de novos contratos (4.º trimestre 2024). Instituto Nacional de Estatística Idealista — Artigos e índices sobre preços de arrendamento; ranking e relatório por concelho (Castelo Branco: ~6,5 €/m² como referência). Idealista+1 Portal da Habitação — Tabelas de renda máxima admitida por município (2025) (valores por faixas). Portal da Habitação Instituto Politécnico de Castelo Branco — Página de Residências de Estudantes (n.º de resid Geral Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado